Um dia desses estava voltando para casa. Como não tenho carro, pego o ônibus. 
                O ônibus me deixa na avenida, e de lá eu tenho que andar um pouco até chegar em 
                casa, são cerca de 7 quarteirões.
                
                Já fazia um tempo que os poucos postes que tem na minha rua estavam com a 
                lâmpada queimada, o que deixava a rua muito escura, só com as luzes fracas das 
                casas iluminando um pouco a área. Mas eu nunca tive medo de andar por lá. É uma 
                vizinhança segura.
                
                Nesse dia depois de entrar na minha rua e andar metade do caminho para a minha 
                casa, eu passei por uma rua que só tem um poste. Eu não sei o que esse poste 
                tem, mas a luz está sempre fraca e quase não ilumina a rua. Quando eu estava 
                passando por ela, eu vi uns garotos brincando com algo que parecia ser um 
                cachorro. Eu atravessei a rua e estava indo embora, quando notei que não estavam 
                brincando, e sim maltratando o cachorro, jogando pedras e chutando ele. "Essa 
                molecada não respeita nada hoje em dia" eu pensei comigo mesmo, então resolvi ir 
                lá dar um fim nisso.
                
                Enquanto me aproximava deles soltei um grito "Hei, parem com isso, deixem o 
                cachorro em paz!" Então os três garotos que estavam lá pararam e olharam para 
                mim. "É, vocês três, parem com isso! Isso é uma covardia!" Enquanto eu me 
                aproximava, os três garotos se entre olharam e cochicharam alguma coisa que eu 
                não pude ouvir. Eu já estava preparando aquele sermão, quando o cachorro 
                aproveitou que a atenção deles não estava mais nele e saiu correndo. Quando ele 
                fez isso, ele ativou uma dessas luzes com sensor de movimento da garagem de uma 
                casa que tinha lá do lado. Quando a luz acendeu o meu coração parou.
                
                O que parecia ser três garotos, não eram três garotos. Eram três criaturas 
                humanóides, com peles escuras, quase negras. Estavam vestindo trapos. Não tinham 
                mais que 1,20m de altura, eram MUITO magras e os ossos da coluna pareciam sair 
                da pele. E tinham cabelos compridos que passavam dos ombros.
                
                Quando eu vi aqueles bichos na rua a poucos metros de mim, eu entrei em pânico e 
                sai correndo na direção oposta. Um deles gritou alguma coisa e os outros dois 
                responderam algo. Eu não consegui entender nada (e nem quero saber o que eles 
                podem ter dito), mas a voz deles era algo assustador. Uma voz muito grave e 
                profunda, muito grossa que parecia ser proferida por um gigante, mas saindo de 
                criaturas que pareciam crianças. Eu olhei para trás e eles estavam correndo 
                atrás de mim, soltando gritos, naquele tom grosso que parecia um trombone 
                desafinado. Depois de dois quarteirões eles pararam de me perseguir e assim que 
                eu cheguei em casa eu me tranquei lá dentro. Tentei disfarçar, tentando fingir 
                que não estava nervoso, para os meus pais não se preocuparem com nada, e também 
                por que eu sei que aquilo não era uma coisa que dava para ser explicada 
                facilmente.
                
                Eu acabei mudando a rota que eu faço para voltar para casa, mas já passei por 
                aquela rua mais algumas vezes de noite e nunca mais vi aqueles pequenos 
                diabinhos. Não sei por que estavam lá ou por que estavam maltratando o cachorro, 
                e é algo que eu nunca vou saber. Nunca mais vi aquele cachorro também. Espero 
                que os diabinhos não tenham ido atrás dele depois de me botarem para correr.
               
              Flávio Augusto - São Paulo - S.P.